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Evaldo Gouveia, falecido nessa sexta-feira (29), foi referência pessoal e artística para o conterrâneo Raimundo Fagner, um dos artistas cearenses mais conhecidos na MPB da década de 1970 até hoje. Evaldo morou em frente à casa da família Lopes, berço de Fagner, no Centro de Fortaleza. E era afilhado de “Seu Fares” e dona Chiquinha, pais do compositor de “Mucuripe”
Fagner teve contato com o músico desde pequeno e, anos depois, regravou o clássico “Sentimental Demais” ao lado de Altemar Dutra, intérprete “pioneiro” da canção. O registro desse contato está nas páginas da biografia de Fagner, “Quem me levará sou eu” (Ed. Agir, 2019).
A referência teve a influência, ainda, dos duetos de voz entre Evaldo Gouveia e Fares, irmão de Fagner falecido em 2004 e ex-presidente da Federação Cearense de Futebol. Na juventude, Fares tinha “fama” de bom seresteiro e foi contemporâneo de Evaldo. O irmão de Fagner era 6 anos mais novo que o compositor de “Sentimental Demais”, enquanto o próprio Fagner nasceu 21 anos depois do vizinho.
As serestas de Fares e Evaldo permeiam até hoje as bonitas lembranças que Fagner guarda da época. “Eles eram parceiros de serestas, era uma relação muito próxima, bem familiar. Evaldo sempre me chamava de Raimundinho e falava com carinho da tia Chiquinha e padrim Zé Felix”, relata com carinho o cantor em entrevista, neste sábado (30), ao Verso.
Para Fagner, que começou a cantar aos 6 anos de idade, a relação e os momentos de compartilhamento musical foram fatores de influência para que seguisse carreira artística. “A primeira imagem de música que eu tenho é do Fares atravessando a rua para ir à casa dele, Evaldo sentado no muro e meu irmão em pé cantando. Ficava querendo ir, mas como era criança, não deixavam por causa dos carros”, lembra com carinho.
O cearense rememora ainda a partida de Evaldo ao Sudeste do País para investir na música. “Ele queria que o Fares fosse com ele, o que não aconteceu pelo meu irmão ser avesso a viagens e à carreira artística”.
Fagner retornou a ver o amigo, na volta dele para Fortaleza, após a primeira apresentação dele com o Trio Nagô, grupo que surgiu na década de 1950 composto por Evaldo, Mário Alves e Epaminondas de Souza. “Foi uma grande festa, nos reencontramos na casa do Sr. Otoni Diniz [ex-dirigente do Fortaleza Esporte Clube], na Praia de Iracema, Evaldo já era famoso no Sudeste e isto foi motivo de muito orgulho para todos nós”, revela.
Da amizade, surgiram algumas parcerias musicais entre os dois com a interpretação por Fagner de sucessos compostos por Evaldo. Além da regravação de “Sentimental Demais”, a composição “Esquina do Brasil”, de Evaldo com Fausto Nilo, ganhou a voz do integrante do Pessoal do Ceará.
Os conterrâneos partilharam ainda algumas vezes o palco. “Uma vez em São Paulo no começo de minha carreira numa casa de show em que ele cantava, e outras duas ou três em Fortaleza, especialmente, no Theatro José de Alencar e outras no Cineteatro São Luiz e Ideal Clube”.
Fagner lamenta não ter sido convidado pela produção para participar de um álbum duplo gravado em homenagem a Evaldo em Fortaleza, em 2011. “Fiquei chateado porque era tão importante pra mim, essa relação com ele, da intimidade, nossa relação afetiva. Apesar disso, não deixei o episódio abalar nossa amizade”, comenta.
“É uma grande perda para a música brasileira, mas sua obra será sempre lembrada pelos que conhecem seu rico repertório, pois Evaldo foi o primeiro hit maker do país, com um número de sucessos incontáveis que ficará para sempre nos corações do povo brasileiro”, declara sobre o legado do amigo.
Para Fagner, Evaldo é a representação de ‘tudo de bom tanto pelo lado profissional como familiar’. “Sua obra é extraordinária e certamente “Sentimental Demais” ficará marcada também como um dos clássicos do meu repertório. Que Deus o leva para o melhor lugar pela sua grandeza como pessoa e artista maior, afinal ele já vinha sofrendo há bastante tempo e merecia um descanso, foi um guerreiro, salve Evaldo Gouveia, salve a música brasileira”.