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O Tempo
Pela segunda vez no mundo, um paciente viu diminuir sua carga de vírus HIV-1, causador da Aids, e é provável que tenha sido curado, anunciaram ontem os pesquisadores. Dez anos após o primeiro caso confirmado de uma pessoa infectada que se livrou da doença (“o paciente de Berlim”), um homem conhecido apenas como “o paciente de Londres” não mostrou sinais do vírus por quase 19 meses após passar por um transplante de medula óssea e tratamento, relata artigo na revista “Nature”.
Ambos os pacientes foram submetidos a um transplante de medula óssea para tratamento de cânceres no sangue, recebendo células-tronco de doadores com uma mutação genética incomum que impede que o HIV se entrincheire.
“Ao alcançar a remissão em um segundo paciente usando método semelhante, mostramos que ‘o paciente de Berlim’ não era uma anomalia”, declarou o autor do estudo, Ravindra Gupta, professor na Universidade de Cambridge.
Gupta e sua equipe enfatizaram que o transplante de medula óssea, um procedimento perigoso e doloroso, não é uma opção viável para o tratamento do HIV. Mas um segundo caso de remissão e possível cura após um transplante desse tipo ajudará os cientistas a reduzir a gama de estratégias de tratamento, disseram.
Mutação genética
Tanto o paciente de Londres quanto o de Berlim receberam transplantes de células-tronco de doadores com uma mutação genética que impede a expressão de um receptor do HIV conhecido como CCR5.
“Encontrar uma maneira de eliminar completamente o vírus é uma prioridade global urgente, mas é particularmente difícil, porque o vírus se integra aos glóbulos brancos”, explicou Gupta.
O estudo descreve um paciente anônimo do sexo masculino da Grã-Bretanha que foi diagnosticado em 2003 e que está em tratamento antirretroviral desde 2012.
Naquele mesmo ano, ele foi diagnosticado com linfoma de Hodgkin avançado, um câncer mortal. Em 2016, ele passou por um transplante de células-tronco hematopoiéticas de um doador com duas cópias de uma variante do gene CCR5, portada por aproximadamente 1% da população mundial. O CCR5 é o receptor mais usado pelo HIV-1. As pessoas que têm duas cópias mutadas do CCR5 são resistentes à maioria das cepas do HIV-1, o que frustra as tentativas do vírus de entrar nas células.
Assim como o câncer, a quimioterapia pode ser eficaz contra o HIV porque mata as células que se dividem. Mas a substituição de células imunitárias por aquelas que não possuem o receptor CCR5 parece ser a chave para evitar que o HIV se recupere após o tratamento.
“O segundo caso reforça a ideia de que é possível encontrar uma cura”, disse Sharon R. Lewin, diretora do Instituto Doherty Peter para Infecções e Imunidade da Universidade de Melbourne. “Um transplante de medula óssea como cura não é viável. Mas podemos tentar determinar qual parte do transplante fez a diferença e permitiu que esse homem parasse de tomar seus medicamentos antivirais”, explicou.
Quase 37 milhões de pessoas vivem com o HIV no mundo, mas apenas 59% recebem terapia antirretroviral (ARV), que não elimina o vírus do organismo. Quase 1 milhão de pessoas morrem todos os anos por causas relacionadas ao HIV. Além disso, há crescente preocupação com uma nova forma de vírus resistente aos remédios.
Paris. “Não queria ser a única pessoa no mundo que foi curada de HIV”, escreveu Timothy Brown, “o paciente de Berlim”, em uma revista médica em 2015. “Quero dedicar minha vida para apoiar a pesquisa e encontrar uma cura para o HIV”, afirmou.
Brown, tratado para leucemia, recebeu dois transplantes e foi submetido à irradiação total do corpo, enquanto o paciente britânico recebeu um transplante e apenas a quimioterapia menos intensiva.